Setecidades Titulo Imunização
Vacinas estão em falta nas unidades de Saúde

Segundo prefeituras, ministério não repassa
as doses; cidades trabalham com público-alvo

Caroline Garcia
Do Diário OnLine
10/02/2016 | 08:11
Compartilhar notícia
Andréa Iseki/Arquivo DGABC


As unidades básicas de saúde do Grande ABC sofrem com desabastecimento de vacinas por parte do Ministério de Saúde, que não está repassando as doses aos municípios de maneira integral desde novembro do ano passado. Em alguns postos da região, os estoques chegam a estar zerados.

Os principais problemas são com as vacinas contra Hepatite A, Hepatite B, Dupla Adulto (difteria e tétano), Tetra Viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e DTP (difteria, tétano e coqueluche). Para não prejudicar a população, os municípios estão sendo obrigados a substituir algumas doses e priorizar públicos-alvos.

Em Santo André, onde há desabastecimento de Hepatite B e Dupla Adulto desde dezembro, o Departamento de Vigilância à Saúde monitora diariamente o estoque e a distribuição nos 33 postos de saúde. Estão sendo priorizados grupos de risco, como recém-nascidos, gestantes, pacientes renais crônicos e profissionais de saúde no caso da Hepatite, e gestante e pacientes feridos no caso da Dupla Adulto.

Além da falta destas duas imunizações – havia somente 30 frascos de vacina para Hepatite B e 79 para Dupla Adulto na última quarta-feira – , Mauá também está com estoque reduzido de Antirrábica Humana e dTpa (gestante). Estão zeradas as doses de Hepatite A (adulto e pediátrica), DTP e Tetra viral. Em nota, o município afirmou que para garantir a logística da vacinação com estoques disponíveis, a Vigilância Epidemiológica tem uma unidade básica em cada uma das cinco regiões de saúde da cidade que centraliza a distribuição aos demais 23 postos de Mauá.

Zerado também está o estoque de Hepatite B em Diadema. A administração afirma que “nos meses de novembro e dezembro de 2015 houve entrega mínima, e em janeiro o município não recebeu as doses”. A DTP, que segue em falta, está sendo substituída pela Pentavalente. “Quanto às vacinas de Hepatite, a população tem sido orientada a aguardar e/ou entrar em contato para saber se a dose está disponível”, diz a Prefeitura.

Apesar de confirmar que as doses estão reduzidas, tanto São Caetano quanto Ribeirão Pires afirmam que não há falta de vacinas para os moradores de ambas as cidades. A imunização de Hepatite B está sendo priorizada à maternidade de São Caetano para a vacinação dos recém-nascidos. “Embora haja carências pontuais, não tem havido prejuízo à população são-caetanense, pois, por meio de vacinas conjugadas ou simples, o calendário é cumprido.” Em Ribeirão, onde há quantidades inferiores de Hepatite A e Tetra Viral, está havendo remanejamento da quantidade de vacinas para todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Rio Grande da Serra, por sua vez, disse que há estoque disponível de todas as vacinas na cidade, isso porque há doses remanescentes de outros pedidos. A Prefeitura confirmou que há atraso no repasse por parte do Ministério – mas não soube precisar desde quando – , principalmente das vacinas contra Hepatite B, e que as doses de Dupla Adulto só estão sendo recebidas metade do solicitado.

São Bernardo foi a única cidade que não respondeu à solicitação da reportagem.

Falta de vacina de Hepatite é a que mais preocupa

Entre as doses que mais estão em falta no Grande ABC, uma das mais preocupantes para a saúde da população é a vacina contra Hepatite B. A doença é considerada sexualmente transmissível e também pode ser passada durante o nascimento caso a mãe esteja infectada, compartilhamento de material para uso de drogas e de higiene pessoal.

“(A falta da vacina) é relativamente grave, principalmente para a população sexualmente ativa. A falta da imunização significa colocar a população em risco. Entre 5% e 10% das pessoas que não conseguem se livrar do vírus podem desenvolver cirrose e câncer no fígado”, afirma Gustavo Johanson, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Hospital Israelita Albert Einstein.

Quem já conseguiu tomar alguma dose – a imunização completa é feita em três – pode esperar até que haja normalização nos postos de saúde para tomar a próxima. “O que não pode é adiantar, mas atrasar as doses, nesse aspecto, não tem problema. Não vai perder o efeito. O importante é continuar de onde parou. Se a pessoa tomou a primeira dose e atrasou para tomar a segunda, ela não tem que tomar a primeira novamente, por exemplo.”

Ministério alega falta de vacinas no mercado

O Ministério da Saúde, por meio de nota, informou haver indisponibilidade de algumas vacinas nos mercados nacional e internacional e que está buscando soluções para garantir a proteção da população até a produção estar totalmente normalizada. “Vale ressaltar que os atrasos são pontuais e o Brasil tem mantido, apesar disso, altos índices de cobertura vacinal (cerca de 90%). Para otimizar o uso das doses e minimizar perdas, o Ministério da Saúde orienta gestores locais a agendar a aplicação das vacinas.”

Em relação à vacina de Hepatite B, que é um dos piores casos de desabastecimento na região, a Pasta afirma que em outubro do ano passado foram distribuídos 1,2 milhão de doses aos Estados e que aguarda o recebimento de 17 milhões de doses, segundo o cronograma de entrega do Instituto Butantan, que deverá se iniciar até o final deste mês.

Já Dupla Adulto, outro caso preocupante no Grande ABC, o Ministério diz que em dezembro foram enviadas 240 mil doses ao Estado de São Paulo. A Pasta lembra ainda que já recebeu cerca de 20 milhões de unidades da vacina que aguardam liberação e análise para posterior distribuição aos Estados.

“O Ministério da Saúde informa que o processo de validação das cargas de vacinas, que envolve as etapas de análise e liberação dos estoques para distribuição aos Estados, é necessário para garantir a segurança da saúde da população alvo. Após isso, cabe às secretarias estaduais de saúde fazer a distribuição aos municípios, de acordo com as necessidades locais.”

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo confirmou o desabastecimento, afirmou que a aquisição das doses é de responsabilidade do Ministério e disse também que aguarda o repasse para depois distribuir aos municípios.

Ainda de acordo com a nota do Ministério da Saúde, houve um aumento de 140% no investimento na oferta de vacinas entre 2010 e 2015, passando de R$ 1,2 bilhão para R$ 2,9 bilhões. E que todos os contratos com os laboratórios produtores de vacinas estão em andamento e os pagamentos em dia.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;