Economia Titulo Crise
Vendas de carros novos despencam 25% em abril

No quadrimestre, os emplacamentos somam 893,7
mil veículos, menor volume registrado desde 2007

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
06/05/2015 | 07:28
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


As vendas de veículos zero-quilômetro tiveram forte queda em abril, levando a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) a revisar para baixo suas projeções para o fechamento de 2015. Considerando a comercialização de automóveis, comerciais leves (picapes), caminhões e ônibus, o segmento registrou queda de 25% em relação ao vendido no mesmo mês de 2014, e retração de 6,5% em comparação com março.

No quadrimestre, o setor contabilizou 893,7 mil unidades licenciadas, 19% menos que o totalizado de janeiro a março de 2014. O volume, para esse período, é o mais baixo desde 2007. Com as vendas derrapando no início do ano, a Fenabrave decidiu rever suas estimativas e calcula agora que o segmento (incluindo as quatro categorias de veículos) somará 2,835 milhões de unidades comercializadas no ano todo, o que significará resultado 18,9% abaixo em relação às 3,49 milhões de 2014. Em março, a entidade já havia revisto suas projeções divulgadas em janeiro, que eram de baixa de apenas 0,5% no ano, para variação negativa de 10% em relação a 2014.

“Em abril foi pior do que pudéssemos imaginar, a situação está muito difícil”, disse o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior. Inflação, juros em alta, restrições dos bancos para acesso ao crédito e falta de confiança do consumidor, em meio aos receios de cortes de postos de trabalho, estão entre os fatores que colaboram para a forte redução nas vendas, assinala o dirigente. “É reflexo da economia. O financiamento está caro, a inadimplência cresceu e o desemprego também. Além disso, com receio de perder o emprego as pessoas adiam a compra do carro”, observa o presidente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), Octavio Leite Vallejo.

Em meio a esse cenário de crise, as montadoras lançam mão de mecanismos para reduzir a produção, já que os pátios estão cheios. Caso dos lay-offs (suspensão temporária de contratos de trabalho) adotados pela GM em São Caetano – que ontem colocou 467 trabalhadores em licença remunerada, além dos 819 suspensos desde novembro – e na Mercedes-Benz, em São Bernardo – que tem 715 afastados desde novembro. Sem contar os 424 operários em banco de horas na Ford, também em São Bernardo, desde fevereiro, sem data para voltar, e os 8.000 em férias coletivas por dez dias na Volkswagen, na mesma cidade, até o dia 14. Há, ainda, os PDVs (Programas de Demissão Voluntária), que geraram 800 dispensas na Volks e 49 na GM. Na Ford ainda não há um balanço do programa encerrado dia 30 e, na Mercedes, ele foi prorrogado até o dia 15.

CAMINHÕES - No caso dos caminhões, que registram comercialização 39% menor no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo período de 2014, há forte influência da economia em recessão, que faz as empresas reduzirem o transporte de mercadorias. “Sem PIB (Produto Interno Bruto, ou seja, sem crescimento econômico), não há frete e não há venda de caminhão”, diz Assumpção Júnior. Em abril, na comparação com mesmo mês de 2014, a queda no número de emplacamentos é de 46,7% e, frente a março, há retração de 10%.

Além das dificuldades do mercado, o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) está com orçamento apertado, diz o dirigente da Fenabrave. Enquanto em 2014 o banco contava com R$ 190 bilhões, neste ano o montante disponível caiu para R$ 130 bilhões, para todas as linhas, não apenas para o PSI-Finame, que oferece juros reduzidos (9,5% a 10% ao ano) para a compra de veículos pesados. “Em patamar normal, são 550 a 600 propostas por dia (de financiamento), hoje, giram em 150 diariamente, e nem todas estas são aprovadas; se fossem, o orçamento do BNDES seria insuficiente.”


Concessionárias podem demitir 40 mil

Por causa da crise no setor automobilístico, as redes de concessionárias também começam a demitir e fechar estabelecimentos. O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, cita que, só neste ano, já foram fechadas 250 lojas, com o corte de 12 mil empregos. Atualmente, em todo o País, são 8.000 revendas autorizadas (de marca) e cerca de 400 mil postos de trabalho. “A persistir a economia como está, serão 800 concessionárias a menos em 2015 (10% do total) e o desemprego pode chegar entre 35 mil e 40 mil no ano.”

O Grande ABC, que reúne hoje 95 revendas de marca, não fica de fora desse movimento. No fim do ano passado, a Ford Sandrecar, que tinha unidades em Santo André e em São Bernardo, encerrou atividades, e a rede que detém a bandeira JAC na região concentrou suas operações (que antes eram duas lojas) em uma só, em São Bernardo, ao fechar a de Santo André. O diretor do Sindicato dos Comerciários do ABC, Jonas José dos Santos, estima que o segmento de revendas emprega hoje 5.000 pessoas na região. Ele não tem o volume exato de cortes. “Mas com certeza diminuiu, só a Sandrecar empregava 80 profissionais.”

Além disso, até o fim do mês, a Fiat Itavema de Santo André fechará as portas, informação revelada por fonte do setor e confirmada por funcionários da rede. Um deles, inclusive, que pediu sigilo no nome, confirmou que parte dos empregados será transferida para filial da rede em São Paulo. No local, há rumores de que deva ser construído um supermercado. “O mercado está parado”, assinala o presidente do Sincodiv-SP, Octavio Vallejo.


Renovação da frota segue em discussão

A Fenabrave segue conversando com o governo federal para fazer sair do papel proposta de renovação da frota de caminhões, que estimularia a retirada de veículos com mais de 30 anos de circulação. O plano é encabeçado por uma coalizão de entidades empresariais e de trabalhadores, entre os quais essa federação e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Segundo o diretor da Fenabrave Valdner Papa, depois de o governo ter estado em vias de colocar no ar o projeto, em 2014, por meio de decreto, o plano ficou em compasso de espera devido ao período das eleições. Com a mudança nos ministérios, neste ano, o debate teve de ser retomado, porém, ele afirma que, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do ponto de vista operacional, está pronto para funcionar. “Agora é uma questão mais política”, diz.

Papa destaca que haveria benefícios para toda a sociedade. “Levando em consideração custos hospitalares de R$ 5 bilhões gerados por acidentes com a frota velha, valeria gastar R$ 150 milhões para a implementação do plano”, assinala. A ideia é tirar 1.000 caminhões com mais de 30 anos no primeiro ano e, depois, ir ampliando esse volume anualmente. Pontos que poderiam ser obstáculos foram equacionados na proposta, diz Papa, como o risco de crédito para o autônomo (que é o alvo do programa). A venda seria vinculada ao cartão frete, quase como um crédito consignado.  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;