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Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Nosso Caminho
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Inspeções – a viagem
Por Creso Peixoto
16/12/2017 | 07:00
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Carlos olha a placa indicativa de acesso. Finalmente, sua cidade. Pisa suavemente no freio de seu Del Rey. Dá seta. No rádio, Blitz, sucesso da época.

– Será que Dedé está em casa? Pensara. Fazia tempo que não via o amigo de longa data. Vai direto à sua residência, sem avisar. Celular era palavra que fazia pensar em alguma coisa de biologia.

– Dedé! Palmas, não havia campainha.

– Entra! Dulce, sua mãe, abre a porta e já desaparece, vai acender cigarro no fogão.

– Oi! Cadê o Dedé? Carlos, já imaginando a resposta, se encaminha para o corredor. Toca as pontas dos dedos nas costas de Dulce, um gesto que parecia querer fazer cócegas, mas era uma forma de carinho com a simpática velhinha.

– Onde podia estar? No quarto! Vai lá!

– E aí, cara? Parado na porta.

– Sei lá! Dedé esboça um sorriso. Deitado, pés voltados para a porta.

– Vamos tomar uma?

Amigos há anos, estavam novamente em mesa de bar. A cervejinha era desculpa para que pudessem conversar. As fortes diferenças de opinião política sempre se amenizavam com colocações divertidas.

– Já te falei de minha viagem para Ilhabela? Dedé vira o rosto para perguntar. Cotovelo na mesa e mão segurando a cabeça. Deixa a boca aberta esperando alguma resposta.

– Não!

– Tales, amigo do tempo que eu fazia Psico na USP em São Paulo, passou em casa na sexta-feira de Carnaval. Ah! Foi em “67”. Na frente da Paulistana, aquele bar que eu frequentava, lembra? Na Avenida Liberdade? Ele parou um Citroën. Aquele carro de tampa de capô que mais parece um focinho de cachorro, de tão comprido.

– Ano 1950?

– Sei lá, cara! Vou saber de ano de carro. Ele tinha acabado de comprar. Veio me convidar para irmos para Ilhabela.

– Cara, saímos de madruga, no sábado. Sabe aquele posto no alto da Serra da Tamoios? Tales deu uma parada, antes da descida. Achou bacana pedir que um mecânico desse uma olhadinha no carro.

– Então, esta era a revisão de compra do carro? Carlos, sorrindo, como forma de discordar. Como engenheiro, sempre achou exótico viver de forma tão desligada de cuidados e precauções. Para Dedé, típicas formalidades de certinhos. Era o contraste que cimentava a amizade.

– O mecânico olhô, olhô! Viu o motor, as rodas... Daí, pôs uma prancha de madeira para olhar embaixo. Nós dois, ao seu lado, parecíamos aguardar veredicto de juiz.

– De repente, o mecânico bota a cabeça para fora e pergunta, olhando o Tales de baixo para cima: “Você vai descer a Serra com este carro?” Olhava-nos de forma indignada.

– Vamos!

– Eu não ia! Levantou e deu as costas para nós, voltou para a oficina. Na verdade, um barraco, mais velho que o carro.

– Mas descemos a serra!

(Inspeção Técnica Veicular). Décadas depois desta viagem, volta a tal da inspeção. Agora, não apenas para São Paulo. Obrigatória para todo o Brasil, segundo a regulamentação publicada em 8 de dezembro, do artigo 104 do (Código de Trânsito Brasileiro). Ato do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), visando segurança e controle da poluição. Torna obrigatória a inspeção técnica veicular a cada dois anos, para todos os veículos.

Os reprovados poderão fazer segunda época. Serão fiscalizados freios, pneus, rodas, equipamentos obrigatórios ou utilizando qualquer equipamento proibido. Prevê-se, no segundo ano da ITV, verificar também a direção.

– Fomos parados em um posto policial, antes da travessia da balsa. Continuou Dedé.

– Onde estão os óculos, senhor Tales? Pergunta o policial. Tava escrito na carteira.

– Carlão, eu pedi para o guarda para ir ao banheiro. Voltei com um garrafão na mão, que estava em um armário aberto, na saída do banheiro.

– Posso tomar uma pinguinha, seu guarda? Perguntei em voz alta, lá da porta do posto. Dedé não conseguia falar de tanto rir.

– Quem te autorizou mexer aí? O policial mudou a cara na hora.

– Desculpa! Voltei para o carro depois de pôr a botija no corredor. O policial acabou nos mandando embora. Nunca soubemos se era mesmo cachaça.

Na próxima semana, o Carnaval!




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