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Cotidiano
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Vida nada fácil
Rodolfo de Souza
05/04/2018 | 07:00
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Noutro dia, sentado numa sala à espera de qualquer coisa que não vem ao caso agora, não pude concentrar-me na leitura dado o rumo que tomou a conversa entre as pessoas presentes. Relatavam orgulhosas e em pormenores o grau de neurose a que estão submetidas.

Deixei, então, o livro para refletir a respeito. Que feio bisbilhotar conversa alheia! – dirá, implacável, o amigo leitor. 

De qualquer forma, a experiência me serviu para tirar algumas conclusões sobre o assunto, eu que não sou psicólogo, tampouco psiquiatra. Apresento-me somente como mero espectador das coisas deste mundo, dentre elas a fabulosa mente humana. Daí a curiosidade.

Aproveitei, pois, o aconchego daquele ambiente para pensar em como a cartilha dos tempos modernos ensina que aqui estamos para lidar com a urgência dos compromissos que nos atropelam e que, devagar, vão minando nosso estado mental. Não bastasse a pressa, no entanto, e o ser humano tem se tornado ainda refém da responsabilidade desmedida e das aparências. Sim, porque, nessa época em que tudo é luz e cor, vive-se também o apelo às aparências e isso, às vezes, torna o indivíduo excessivamente preocupado com a imagem captada pelas rigorosas retinas alheias. 

E o costume de observar o que me vai à volta tem me fornecido elementos para, neste caso, constatar que vivemos, sem sombra de dúvida, um momento de grave estado de submissão às coisas consideradas imprescindíveis neste plano perfeito. Bobagens, a maior parte.

Sinto, inclusive, com alguma apreensão, o ar saturado de gestos e comentários que mostram um quadro, para o qual eu permaneci de costas por muito tempo na expectativa de que não existisse. Trata-se, pois, de pessoas que exibem, sem constrangimento, uma série de distúrbios decorrentes, talvez, dos dias nada tranquilos vividos nesse hospício, o que leva a crer que somos todos espremidos e triturados nessa turbulência cotidiana que sufoca e faz enlouquecer. A mente é, pois, forçada a pensar em inúmeros problemas, normalmente de uma só vez. Claro que se essa mistura de chateações fosse colocada numa peneira e esta, bem sacudida, é possível que não restassem grandes dificuldades. Entretanto, nos habituamos aos dramas e nos tornamos vítimas de situações que nem sempre são merecedoras de destaque em nossas vidas. Por esta razão tenho visto pessoas atoladas em aflições, outras com atitudes hilárias, motivo de piada no meio em que vivem.

São os anseios a que estão submetidas que, mais cedo ou mais tarde, arruínam os sentimentos e começam a produzir sintomas que vão desde insônia e manias de aparência inofensiva a distúrbios que levam o sujeito ao consultório e, consequentemente, à farmácia. Aí vem a dependência de remédios que o auxiliam na condução da vida, mas que também o tornam eterno prisioneiro das receitas. Palavra de gente que nada entende do ofício, mas que arrisca um palpite. 

Mas acho também que extrapolei na reflexão. Tanto é que a viagem por esse torvelinho de insanidades me causou um tédio danado e uma vontade tremenda de voltar para a segurança do meu livro. Mergulhei, então, em seus braços e corri da loucura.




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