Economia Titulo Ato
Centrais se mobilizam por manutenção do emprego

Passeata em São Bernardo reuniu cerca de
4.000 trabalhadores de diversas categorias

Daniel Macário
Especial para o Diário
29/01/2015 | 07:13
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Orlando Filho/DGABC


As seis maiores centrais sindicais com atuação no País realizaram ontem mobilização nacional contra a política econômica atual do governo federal. No Grande ABC, cerca de 4.000 trabalhadores se reuniram em frente à sede da Scania, em São Bernardo, para realizar ato pacífico que debateu propostas da categoria para promover a manutenção do emprego. A manifestação fez parte dos eventos do Dia Nacional de Luta por Direitos e Emprego.

Durante o ato, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, afirmou que líderes e representantes das centrais sindicais irão se reunir na terça-feira, dia 3, em São Paulo, com os ministros do Planejamento, da Previdência, da Secretaria Geral da Presidência e do Trabalho para negociar projetos que garantam ao trabalhador mais segurança em meio à crise brasileira. “Já existe um canal entre as centrais e o governo para que a gente ache alternativas para revogar algumas decisões e aponte o que queremos em 2015. O ano será duro, ele guarda muitas semelhanças do que foi 2014”, relatou Marques, que apontou o Programa Nacional de Proteção ao Emprego como principal medida a ser negociada. “Tivemos apoio de pessoas da Europa para elaboração deste projeto e tenho plena certeza que é uma medida que irá atender as necessidades dos dois lados, sendo que o governo tem verba para custear o projeto. Com apenas R$ 1 bilhão já é possível manter o programa pelo menos em 2015.”

O programa é inspirado em iniciativa alemã, conhecida como kurzarbeit, cuja tradução literal é “trabalho curto”. O modelo funciona da seguinte forma: o profissional reduz as horas ou para de trabalhar temporariamente e recebe 60% do salário original ou 67%, se tiver filhos. Sua contribuição social e seu seguro saúde são pagos de forma integral. Entretanto, os pagamentos feitos pelo empregador recebem reembolso parcial por parte do governo. O benefício pode ser usado por até dois anos.

Na pauta da mobilização também estavam o Programa Nacional de Renovação da Frota de Caminhões e a ampliação das liberações de empréstimos, principalmente para aquisição de veículos. “Já é possível notar que muitos trabalhadores estão deixando de comprar por conta das restrições do crédito. Infelizmente, é por meio do crédito que conseguimos gerar economia para o País. Por isso, é importante neste momento abraçar a causa dos empregados para um bem comum”, relatou o secretário de Finanças do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira, que junto com integrantes dos Químicos e de Saúde acompanharam o ato.

Representando a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o secretário-geral da entidade, Sérgio Nobre, relatou que só um grande acordo nacional pode proteger a produção nacional e, consequentemente, o emprego. “Sabemos que iremos passar por período difícil em todos os setores, mas não podemos deixar que essas medidas levem o País à recessão.” A afirmação de Nobre foi compartilhada pelo vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen, Valdir Freire Dias, o Chalita, que ainda assinalou que as consequências podem ser piores em outros setores. “Para uma demissão nas montadoras, é possível calcular de três a quatro demissões em fabricantes de peças.”

A revogação imediata das Medidas Provisórias 664 e 665, anunciadas pelo governo no fim do ano passado, que alteram as regras para pensão por morte, auxílio-doença e seguro-desemprego, entre outros pontos, também foram anunciadas no ato como projetos a serem levados ao governo.

O protesto organizado pelo CUT e demais centrais sindicais (CSB, CTB, Força Sindical, Nova Central e UGT) – com apoio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – percorreu a Avenida José Odorizzi, rumo ao viaduto Newton Monteiro, e contou com a participação de trabalhadores da Scania, Arteb, ZF, Panex e Manserv. Os colaboradores que participaram do ato paralisaram as produções do turno da manhã das empresas.


Metalúrgicos alteram suas rotinas

Apesar de ainda ser o berço da indústria automobilística e, consequentemente, o carro-chefe do setor na região, os trabalhadores das principais montadoras têm colocado o pé no freio e mudado a rotina de suas famílias neste início de ano. Depois da demissão de 260 funcionários da Mercedes, da instabilidade gerada na Volkswagen após 800 demissões revogadas e, por último, o atraso de pagamento do 13º salário na Karmann Ghia, que mantém os empregados paralisados pelo terceiro dia seguido, muitos metalúrgicos relatam cortes de gasto com receio do desemprego.

Funcionário da Scania há 20 anos, o técnico de montagem Adeilton Castro, 44 anos, teve que adiar os planos de comprar sua casa por medo da instabilidade do setor. “Tenho uma esposa e dois meninos de 13 anos para criar. Hoje, pagando 80% das despesas básicas, não posso me arriscar em comprar uma moradia. Infelizmente, preciso adiar os planos para não correr o risco de arcar com possível surpresa.”

Outro que também está receoso é Donizete Demétrio, 48, técnico de montagem da Scania, pois faltam apenas dois anos para ele se aposentar. “É muito difícil no nosso setor arrumar outro emprego, principalmente, na minha idade. Se for demitido não consigo mais emprego.”
 




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