Casos que envolvem atores esquecidos que buscam retomar as rédeas da carreira aparecem aos montes, mas sempre chamam a atenção. Nada melhor para representar a superação do que uma tentativa de volta por cima. Quando esse cenário mescla a ficção e o mundo real, há um campo complicado para se trabalhar no qual o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu (dos pesados 21 Gramas e Babel) soube lidar com qualidade em meio a várias possibilidades. Suas ideias resultam em ''''Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)'''', que chega hoje aos cinemas brasileiros credenciado por prêmios no Globo de Ouro e o Screen Actors Guild Awards, além de ser o maior indicado ao Oscar deste ano (veja lista abaixo).

Apesar do título sugerir um novo filme de super-herói no circuito, Iñárritu apresenta roteiro original no qual Riggan Thomson (Michael Keaton) busca superar a herança artística de ter vivido nas telonas o personagem Birdman nos anos 1990 duas décadas depois. Para provar a todos, inclusive para si próprio, que seu talento é muito maior do que pensam, ele investe tudo o que tem em uma problemática peça na Broadway.

O longa aborda o clássico conflito no qual o protagonista perturbado luta contra suas própria limitações com ótimas doses de comédia em pontos certeiros. A qualidade da obra aparece na medida em que as opções artísticas do diretor trazem frescor para um argumento já utilizado por diversas vezes nas telonas. Talvez a principal delas seja a sempre audaciosa proposta de apresentar uma obra como se fosse um enorme plano sequência. Iñárritu (longe dos dramas incômodos e abraçando algo mais leve) não inventa a roda, mas consegue dar dinâmica moderna ao processo. As andanças da câmera pelos bastidores de um teatro em Nova York sempre encontra cenários e personagens que deixam a história viva a todo o momento.

Para comandar esse projeto, o veterano Michael Keaton parece ressurgir para todo o grande público. Aos 63 anos, o ator teve seu auge de popularidade quando assumiu o papel de Batman nas primeiras adaptações do personagem dos quadrinhos para o cinema, no início dos anos 1990. As comparações com o novo personagem na carreira são naturais e o norte-americano consegue lidar com a pressão de maneira a levá-lo novamente ao topo das paradas – quando boa parte das chances desse tipo costumam afundar ainda mais os artistas. Ele revela uma forma dramática não vista antes em sua jornada em obras como ''''Minha Vida'''' (1993), tendo a sensibilidade necessária para perceber os incômodos que assombram Thomson. Os altos e baixos – esses sempre mais intensos – são trazidos à tona em conflitos pessoais, diante da falta de entrosamento com a filha Sam (Emma Stone), e profissionais, como nos conflitos de ideias com o surtado ator Mike (Edward Norton).

Mais do que o reflexo de um ator atormentado, ''''Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)'''' – um dos títulos mais divertidos dos últimos anos – acaba por refletir parte da loucura da indústria do espetáculo. O que se vê na tela é praticamente uma espécie de estudo em torno do que a desenfreada produção de blockbusters pode gerar em parte de seu elenco. É a questão de quebrar de padrões. Iñárritu, Keaton e o longa de maneira geral são corajosos para fugirem de suas zonas de conforto. O resultado final é de alto nível e os prêmios coroam o projeto.

INDICAÇÕES AO OSCAR

- Melhor Filme

- Melhor Diretor (Alejandro Gonzáles Iñárritu)

- Melhor Ator (Michael Keaton)

-  Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton)

- Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone)

- Melhor Roteiro Original

- Melhor Fotografia

- Melhor Edição de Som

- Melhor Mixagem de Som