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Vale a aposta

O caro leitor acredita que a denúncia de formação de cartel para superfaturar equipamentos do Metrô paulistano (e, eventualmente, de outros metrôs e trens de transporte urbano espalhados pelo País) será investigada a fundo, com seriedade?

Por Cynthia Tavares
11/08/2013 | 07:00
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O caro leitor acredita que a denúncia de formação de cartel para superfaturar equipamentos do Metrô paulistano (e, eventualmente, de outros metrôs e trens de transporte urbano espalhados pelo País) será investigada a fundo, com seriedade? Este colunista aposta uma gravação de The Sound of Silence, com Simon e Garfunkel, contra o Blowin’ in the Wind, versão Eduardo Suplicy, como não será.

O Brasil é um país curioso. Já condenou um intermediário de distribuição de propina, PC Farias, sem identificar nem os pagadores nem os recebedores. Já condenou um grupo de políticos e empresários no caso do Mensalão, em última instância, mas a última instância aqui não é a última, porque cabe recurso. Por que não criticar duramente os corruptores (sem, naturalmente, puni-los) e deixar de lado a investigação a respeito dos corrompidos? Esse tipo de investigação é tão brasileiro quanto a feijoada, a goiabada com queijo e a pizza à portuguesa.

E, cá entre nós, quem vai atirar a primeira pedra? Alguns mamutes empresariais são os grandes financiadores de campanha dos maiores partidos; e os partidos que não recebem se calam, à espera de sua hora de glória. Há algum tempo, uma operação da Polícia Federal acertou o centro do alvo: descobriu-se quem pagava e quem recebia. Mas, por falta de informações, todos saíram ilesos. Construções de areia são frágeis na praia. Na vida real, são uma fortaleza, um sólido castelo.

Petistas e tucanos vão se xingar, uns acusando os outros. Mas sabem que investigação em excesso, como remédio em excesso, faz mal para todos eles.

Internacional, e daí?

O caro leitor também não deve se impressionar muito com a corrupção investigada no Exterior. A Suíça provou que dirigentes da Fifa receberam propinas milionárias, mas não aconteceu nada porque isso não era ilegal. O máximo que aconteceu foi a antecipação da aposentadoria para dirigentes com mais de 80 anos de idade (antes, quem decidia a data da aposentadoria era uma vontade mais alta). Os demais continuam por lá, mandando muito. Bernie Ecclestone, da Fórmula 1, enfrenta acusações pesadas. E continua lá, mandando muito, aos 82 anos. Talvez ele também se aposente. De qualquer forma, a punição é mais severa que a brasileira. Aqui o pessoal metido em bandalheiras nem aposentado é.

O risco nacional

De acordo com a Justiça alemã, a Siemens pagou 8 milhões de euros, menos de R$ 25 milhões, a funcionários públicos brasileiros. O risco que esses funcionários correm é de serem punidos por dumping: cobraram abaixo do mercado.

Batata quente

A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), de ordenar a prisão do senador Ivo Cassol (PP-RO) sem cassar seu mandato, deixando que o Senado cuide disso, é esquisita: abre campo para que um parlamentar se mantenha no posto, mesmo na cadeia. Mais: o ficha-suja não pode se candidatar, mas mesmo condenado e preso pode manter o mandato. Talvez seja um ato de astúcia política do Supremo: se o Senado não se mexer, a situação esdrúxula poderá provocar revolta na opinião pública. O Senado Federal terá de assumir a responsabilidade de afastá-lo.

É coisa nossa

Esta coluna, hoje, trata apenas de peculiaridades brasileiras. Por exemplo, a Polícia Federal entrou na casa de Sérgio Nogueira Seabra para uma busca e apreensão. O detalhe é que Sérgio Nogueira Seabra é secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da CGU (Controladoria-Geral da União). É notável: é a polícia querendo recolher provas de corrupção na residência do responsável pela Prevenção da Corrupção de uma entidade cuja função específica é verificar se os altos funcionários do governo andam na linha. O ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, nem esperou o resultado da ação: diz que Seabra é inocente.

Mais coisa nossa

E a entrega dos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a uma empresa privada, a Serasa, controlada por um grupo estrangeiro, a Experian? Ninguém sabia de nada! O convênio prevê a entrega à Serasa-Experian dos dados de 140 milhões de eleitores brasileiros. A presidente do TSE, ministra Carmen Lúcia, suspendeu o convênio até que seja examinado pela Corte – o que indica que não tinha sido examinado, e que a presidente do tribunal ou não sabia do que se tratava ou achava que tudo bem, mas de repente a má repercussão fez soar o alerta. De qualquer modo, houve uma mudança importante nas circunstâncias, o que talvez torne o convênio impossível: essas coisas valem só quando ninguém sabe delas.

No meio da rua

Mas, pensando bem, essas coisas já existem faz tempo, todo mundo sabe delas e ninguém se mexe. No centro de São Paulo, especialmente na Rua Santa Efigênia, compra-se por R$ 30 um CD que traz informações cadastrais de centenas de milhares de pessoas. Devem ser informações verdadeiras. Fazer uma lista de informações falsas só para vender nos camelôs custaria caríssimo.

Antes da hora

Mais coisas estranhas? O indiciamento do vereador paulistano Andrea Matarazzo, do PSDB, no caso Siemens. O caso ocorreu antes que ele fosse secretário do governo tucano.




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