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Em busca de liberdade

Jovens homossexuais travam batalha íntima e com sociedade para viver orientação sexual com respeito

Por Tauana Marin
Diário do Grande ABC
25/03/2018 | 07:00
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Divulgação


Sair dos padrões impostos em sociedade com costumes milenares não é fácil. Estamos no ‘avançado’ século 21 e o mundo continua a passar por mudanças de ideias, com algumas delas ainda motivadas por dramas, discussões e autoconhecimento. Assumir a orientação sexual exige coragem e aceitação de si mesmo. É um processo que envolve não só a pessoa, mas todo um universo ao seu redor, que envolve família, amigos e o restante do mundo. Hoje, no Dia Nacional do Orgulho Gay, o D+ relata casos de jovens da região que lidaram (e ainda lidam) com experiências e desafios de, simplesmente, serem quem são e terem sexualidade própria.

Gabriela (nome fictício para a entrevistada que preferiu não se identificar), 18 anos, de Ribeirão Pires, ‘mata um leão por dia’ em busca de respeito. A universitária notou sua homossexualidade entre 13 e 14 anos, mas só no início do ano passado contou para a mãe. “Na verdade, dei vários indícios para minha família, apesar de eles nunca saberem de nada pela minha boca. Sempre gostei de brinquedos e roupas de meninos. Mesmo assim, até os 15 anos, ‘ficava’ com os garotos não porque gostava, mas porque minhas amigas ficavam e eu achava que era o certo a fazer. Quando beijei uma menina tive confirmação de que não era algo da minha cabeça. Foi difícil falar para minha mãe, mas chegou determinado momento em que falei para mim mesma: ‘Não aguento mais esconder’.”

Para ela, sua mãe sabia da verdade há tempos, mas nunca quis acreditar. Após primeiros dias mais turbulentos, elas voltaram a conviver depois de alguns dias fora de casa. Entre as preocupações diárias, o medo da violência motivada pela homofobia é um dos receios da matriarca. "Ainda há muito preconceito. Já evoluímos muito de uns anos para cá, estamos sendo mais aceitos e espero que isso continue crescendo e que a mortalidade homossexual diminua. Minha mãe pede para que eu não ande de mão dada com ninguém por medo da violência”, conta.

Assim como Gabriela, a história de Greg, do filme Com Amor, Simon, com pré-estreias em salas do Grande ABC, tem angústia e libertação. Na trama, baseada em livro, o menino gay guarda seu ‘segredo’ até que e-mails sobre o assunto vazam e os amigos do colégio, assim como os pais, ficam sabendo da verdade. O turbilhão na vida do adolescente promete chamar a atenção nas telonas e reaquecer o debate sobre o tema.

O processo de revelação da orientação sexual de Gabriela não foi cinematográfico e o processo tem sido complicado. "Cresci em família muito tradicional. Tenho um primo gay e sempre vi o quanto ele sofria com comentários maldosos. Quis evitar isso ao máximo”, explica. “Foi um processo longo até conseguir contar para minhas amigas, apesar de todas ficarem do meu lado. Foi aí que tive coragem para parar de me esconder e ser quem realmente sou.”

O youtuber Rômolo Cricca (www.youtube.com/RomoloCricca), 18 anos, de Santo André, recorda que, logo aos 3 anos, brincava com roupas, sapatos e maquiagens da mãe. “Na minha cabeça, ainda criança, gostar de meninos era algo normal. E na verdade é. Nasci sabendo o que sou”, afirma.

Por conta das decisões claras, na cabeça e no coração, o jovem não viu necessidade em ‘ficar’ com meninas. “Nunca precisei me certificar de algo que já tinha certeza. Aos 12 anos me assumi gay. Sempre fui ligado ao mundo feminino. Claro que no início foi um choque para a família e o medo e o susto vêm junto. Há o medo do que pode acontecer na rua. Mas todos sempre me apoiaram. Com o tempo tudo normaliza e a gente vai se entendendo. Não preciso esconder mais nada de ninguém”, conta.

A aceitação e alívio deram condições de o garoto criar canal no YouTube onde publica, principalmente, vídeos de maquiagens. Em uma postagem, o pai foi convidado para pintar seu rosto. “Adoro o mundo cênico. Teatro, música, dança, artes, isso também me leva a me maquiar, usar perucas. Mas, no sentido real, não tenho por que me transformar. Sou o que quero ser. Quando sinto vontade, saiu maquiado, quando não, coloco bermuda e camiseta.”

A liberdade que Rômolo encontrou em família, amigos e no mundo cibernético, infelizmente, não acontece com todos. “A violência, intolerância, a realidade das pessoas LGBT no Brasil são tristes. Quando uma pessoa nasce heterossexual não se pergunta se a família aceitou ela por ser hetero, então por que só pelo fato de você ser gay precisa passar por isso?”, questiona o youtuber.  




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