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Mulheres vão além da vida doméstica e ganham mercado

Porém, ainda encontram preconceitos quando
disputam funções profissionais com os homens

Tauana Marin
tauanamarin@dgabc.com.br
08/03/2017 | 08:33
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Arquivo pessoal


Mesmo com faixas salariais mais baixas que as dos homens, elas não deixam de conquistar seus espaços. Atualmente, não é difícil encontrar mulheres nos mais diferentes setores da economia. Há alguns anos elas deixaram as tarefas domésticas para cumprir dupla, tripla jornada. Mas, em pleno século 21, ainda encontram preconceitos e dificuldades, principalmente no mercado de trabalho. É preciso matar um leão por dia para provar seu valor.

Mesmo com as adversidades, a vontade de fazer algo diferente e desafiador inspirou Maria José da Silva Modesto, 50 anos. Ela, que veio de Pernambuco para o Grande ABC aos 15 anos, se tornou metalúrgica e há 12 anos coordena o comitê sindical da empresa em que trabalha, em São Bernardo. “Logo que cheguei aqui trabalhei como costureira, primeiro em uma camisaria e depois em uma fábrica de lençóis. Era um trabalho muito digno e que gostava, mas sempre me desafiava. Foi quando me inscrevi no processo seletivo da fábrica onde trabalho atualmente, para produtora de componentes eletroeletrônicos por ouvir minha irmã falar do serviço. E aqui estou há 28 anos”, relata.

Maria José se saiu tão bem que, em seis meses, teve a primeira promoção. “Entre meus colegas na linha de produção sempre fui admirada e tratada com muito respeito. Não há dúvidas de que a mulher não alcançou a igualdade em relação aos homens, em termos de direitos dentro das empresas. Precisamos batalhar muito ainda.” Neste ano, a metalúrgica e representante sindical espera se aposentar “O trabalho dentro de fábrica não é fácil. É cansativo e exige força física, mas tudo valeu a pena. .” Cerca de 15% da base metalúrgica da região é formada por mão de obra feminina.”

Não é só em linha de produção que se encontra o profissionalismo feminino. Cleide Tameirão, 47, tem muito de sua profissão: motorista de ônibus. Assim como Maria José, Cleide é uma migrante. Ela saiu de Diamantina, em Minas Gerais, com a família em busca de novas oportunidades. Quando chegou a Santo André, aos 16 anos, começou a trabalhar no ramo de transporte, como cobradora.

“Naquele tempo era permitida a contratação de menores nessa função. Esperei completar a maioridade e só em 1999 o Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC equipou um ônibus para fazer treinamento, beneficiando a categoria. Fui a primeira mulher a praticar como motorista no ônibus do sindicato. Foi assim que consegui o emprego.”

Quatro anos depois, Cleide foi convidada a integrar a direção do sindicato pelo presidente Francisco Mendes da Silva, o Chicão. Hoje, ela também é secretária nacional de política sindical na CNTTL/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística) e presidente do CMDM (Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Santo André).

Cleide, além de motorista, teve o desafio de vida de criar três filhos sozinha, após se separar. “Me desdobrava. Hoje casei novamente e fico feliz em ver tudo que conquistei.” Em sua categoria, apenas 5% são mulheres.

Empreendedorismo também está no vocabulário feminino. Formada em Marketing e Moda, a paulistana Juliana Páffaro, 39 anos, iniciou a carreira com negócio próprio no ramo têxtil, por onde se aventurou por 15 anos. Altos e baixos da área – e que afetaram também a vida pessoal – fizeram com que deixasse de lado o setor e apostasse no universo do e-commerce, o que também não lhe trazia satisfação.

“Como tinha feito mestrado na minha área na Inglaterra, voltei para lá para trabalhar em projeto de e-commerce. Nas horas livres comecei um curso de culinária nas fazendas orgânicas no Interior. Me apaixonei pelos ingredientes primários. Voltei para o Brasil, pesquisei e abri uma franquia”.

A partir da decisão, Juliana convidou o então noivo para ser sócio. “Ele é muito bom com os números e eu me dedico mais à gestão.”. Hoje casada e feliz com o negócio, a empresária tem tempo para sonhar. “Tenho muitos desejos e como concretizá-los.” Ela promove o empreendedorismo social, ajudando mulheres no desenvolvimento pessoal e profissional.

Maestria para cuidar da família e o trabalho

Segundo Marcia Vazquez, consultora de transição de carreira e coaching da Thomas Case & Associados, atualmente a mulher sabe bem equilibrar carreira e vida. Isso se deve ao fato de ser possível ‘criar’ estrutura de apoio que envolva o companheiro, escola, núcleo familiar mais próximo e demais pessoas de apoio aos cuidados com os filhos.

Assim, as empresas têm visto as mulheres atuando sem interferências significativas na rotina do trabalho, por conta dos apoios que se constituem de fundamental importância para o seguimento do papel como mãe. As próprias companhias têm oferecido benefícios, como creches, para proporcionar mais conforto para a profissional exercer em plenitude a função, diminuindo as ausências do trabalho. No entanto, a mulher enfrenta restrições para ocupar altos cargos ou posições ditas como masculinas.

“Isso não se dá pelo despreparo profissional ou acadêmico. Ainda vivemos dentro de uma cultura que privilegia os homens nos postos de trabalho mais elevados das hierarquias organizacionais, considerando que ‘eles’ reúnem melhores condições, de conhecimento e experiências, que as mulheres”, exemplifica Marcia.

“Historicamente, em nosso País foram os homens os conquistadores, os desbravadores, os governantes, os líderes em qualquer esfera da vida, inclusive a familiar. Ficamos então, em um círculo vicioso onde as mulheres ascendem aos cargos de alta liderança menos frequentemente, pois são dadas menos chances”, finaliza. 




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