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No lugar das florestas, batatas

A madeira de lei extraída das matas locais alavancou a indústria moveleira...

Ademir Medici
08/10/2015 | 07:00
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A madeira de lei extraída das matas locais alavancou a indústria moveleira de São Bernardo; o carvão e a lenha produzidos sustentaram famílias nativas e de migrantes e imigrantes. Mas, e os malefícios desta devastação, agravados pela industrialização e urbanização? Quem primeiro se preocupou com os danos ambientais ocorridos?

Uma boa pista está no artigo publicado há 100 anos no jornal O Estado de S.Paulo por Rodolpho von Ihering, então assistente do Museu Paulista, no Ipiranga.

Rodolpho indignou-se com um anúncio publicado à época em um dos jornais paulistanos – ele não cita qual – em que um proprietário sugere o plantio de batatas no lugar de floresta.

Diz o anúncio:

“Para carvão, lenha e material de construção, vendem-se dois milhões de metros quadrados de mato com preciosa madeira de lei a 30 minutos apenas do Largo da Sé, com o bonde elétrico à porta do sítio, onde há ótima pressa em derrubar essa floresta e fazer grande plantação de batatas. Fará preços excepcionalmente vantajosos."

Da Cantareira à Serra do Mar

O artigo de Rodolpho von Ihering é muito rico – e atualíssimo, um século depois:

1 – A derrubada de uma floresta nas cercanias de uma grande cidade (São Paulo) redunda em prejuízo para a higiene da ‘urbs’ e constitui um atentado à estética.

2 – No caso da mata, a opinião pública e os legisladores não estão compenetrados da falta que poderá fazer um conjunto de árvores a maior ou menor distância dos centros populosos.

3 – Será tão difícil compreender que a vida animal está intimamente ligada à vegetal? Que o ar é purificado pela mata e que esta tem influência pronunciada sobre o clima?

4 – O clima de São Paulo é regulado, de um lado, pela Serra da Cantareira, de outro pela zona entre a cidade e a Serra do Mar.

5 – Nos tempos de João Ramalho a mata estendia-se por toda essa zona, cessando apenas de São Bernardo para cá, e disto nos dá testemunho o próprio nome de Santo André da Borda do Campo.

6 – A floresta da Serra do Mar sempre foi poupada, porque o terreno acidentado não permite uma exploração. Mas, aquém do Alto da Serra, em todo o planalto de um e outro lado das estradas do Vergueiro e da Inglesa (estrada de ferro), são bem poucas as manchas de florestas dignas desse nome.

7 – Onde se veem matas, estas já têm o sinal de serem secundárias ou muito trabalhadas; em largos trechos nem vestígios ou apenas capoeira nova. Isto até Ponto Alto. Daí até São Bernardo, devastação absoluta.

8 – Velhos moradores falam ainda de florestas valiosíssimas, das quais tiravam canela, guatambu, massaranduba e muitas outras madeiras de lei e onde encontravam guapéva suficiente para fazer o carvão superior que lhes encomendavam os ferreiros.

9 – Agora as maiores árvores são cedro, batalha, figueiras e imbirussu – madeiras brancas, das quais ao menos a última é de lei... para os caixões de defunto.

Lição centenária

O artigo prossegue. É extenso. Vale a pena ser conhecido na sua íntegra e discutido, um século depois.

Encerramos com a legenda do mapa que acompanha o texto de Rodolpho von Ihering: “Mapa dos arredores de São Paulo até o Rio Jurubatuba, 18 quilômetros aquém do Alto da Serra, com as principais matas. Na mesma escala a área dos grandes parques de Paris, Viena e Roma. Vila Borguese, em Roma, com florestas de 5.000 hectares, equivale um pouco mais do que a área ocupada pela cidade de São Paulo.”

Diário há 30 anos

Quarta-feira, 25 de setembro de 1985 - ano 28, nº 5938

Cultura – Faculdade de Educação e Cultura do Grande ABC (FEC) promove a exposição Mural da Arte/Notícia, com trabalhos de seis cartunistas do Diário: Adelmo, Affonso, Fernandes, Juarez, Luiz Gustavo e Pathé. Era a primeira vez que os profissionais do Diário desta área artístico-jornalística participavam de uma mostra coletiva.

Em 8 de outubro de...

1915 – A fim de fazer uso de banhos, seguiu para o Guarujá Francisca de Almeida Garret, esposa do professor Francisco Garret, residentes em Santo André.

- A guerra. Do noticiário do Estadão: ‘Tropas da Alemanha e da Áustria seguem da Galícia e da Rússia em direção ao sul da Hungria’.

1930 – Uma revolução em marcha. O prefeito Saladino Cardoso Franco ordenou à fiscalização geral da Prefeitura de São Bernardo que exerça a mais rigorosa vigilância junto ao comércio atacadista e varejista a fim de que o suprimento de víveres à população se faça sem exploração. Que sejam seguidos os preços correntes no mercado da Capital.

- A ofensiva do Exército no Paraná pelos defensores da legalidade frente aos revoltosos. O Brasil estava em velada guerra civil.

Hoje

- Dia do Químico do Grande ABC

- Dia Mundial da Visão

- Dia do Nordestino

- Dia do Nascituro

- Dia pelo Direito à Vida

Santos do Dia

- Santa Pelágia. Viveu afastada de todos e conservou sua identidade sob segredo, vivendo o resto da vida disfarçada de homem. Somente quando morreu, os ermitãos descobriram que era uma mulher. Foi então que reconheceram tratar-se da bailarina da Antioquia, agora uma simples penitente arrependida, que se anulara do mundo, no seguimento do Cristo.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza

- Reparata

- Lourença

- Taís 




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