Idosos entre 60 e 65 anos, aposentados e pensionistas que ainda não fizeram o recadastramento de cartões para terem direito à passagem gratuita nos ônibus com o smart card em Santo André reclamam que estão sendo discriminados e humilhados nos coletivos desde o último domingo, quando foi retirada a leitora dos cartões antigos.

Passageiros ouvidos pela reportagem disseram que já tiveram de pagar tarifa ou precisaram implorar aos funcionários para que deixassem descer do ônibus gratuitamente. Muitos usuários também reclamaram que não ficaram sabendo que a leitora dos cartões antigos seria retirada no domingo.

Os idosos se queixam que os motoristas e cobradores não estão respeitando a determinação da Aesa (Associação das Empresas de Transporte Coletivo de Santo André) de permitir que utilizem o sistema gratuitamente até 17 de setembro, data em que se encerra o recadastramento.

O diretor da Aesa, Luiz Marcondes, afirma que a entidade não recebeu um número grande de reclamações nesse sentido e que todos os motoristas e cobradores do município foram informados da determinação e precisam segui-la. Marcondes informou também que houve intensa divulgação sobre a retirada das leitoras no domingo, por meio de cartazes e publicação na imprensa.

Por conta dessas queixas, desde segunda-feira os idosos estão acordando de madrugada e formando filas gigantescas na Aesa para realizar o recadastramento de cartões.

“Nunca passei por isso na minha vida. Tive de me humilhar ao cobrador para não pagar a passagem. É um direito que a gente tem que não está sendo respeitado”, contou a pensionista Maria Marta Cares de Melo, 61 anos, que ocupava o primeiro lugar na fila nesta quarta pela manhã. Havia cerca de 500 pessoas às 6h30.

Maria disse que chegou às 3h30 para garantir o lugar. O atendimento começa às 8h e termina às 18h, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, o recadastramento é feito das 10h às 17h.

“Depois da situação que eu passei, resolvi fazer logo esse recadastramento. Só que cheguei ontem (terça-feira) às 5h45 e não consegui ser atendida. Estão atendendo só 300 pessoas por dia e não consegui pegar a senha”, afirmou a pensionista, moradora do Sítio dos Vianas.

Maria acordou às 2h30 e conseguiu carona para chegar até o centro empresarial do ABC Plaza Shopping, no Centro, onde fica a Aesa, com a vizinha e amiga Terezinha Gonçalves Ribeiro, 62 anos, também pensionista. Terezinha ocupava o segundo lugar na fila.

“Preciso pegar ônibus quase todos os dias para pagar contas e fazer compras em supermercados. Acho que é uma verdadeira humilhação o que estamos passando. Deviam arrumar um jeito melhor para fazer o recadastramento. Talvez distribuir as senhas antes”, queixou-se Terezinha.

Na fila, logo atrás das amigas, estava a aposentada Maria Inês Monte Ferrante, 54 anos, moradora da Vila Palmares. “Já vim aqui três vezes e não consegui resolver a situação. Por isso, madruguei, acordei às 2h40 e cheguei aqui às 3h40 depois de pegar carona com um vizinho. Na segunda-feira, fui pegar um ônibus no bairro para vir ao Centro e tive de pagar a passagem. Mesmo mostrando a cartão antigo, o motorista não deixou eu descer sem pagar. Isso é um absurdo”, revoltou-se Maria Inês.

De acordo com Marcondes, diretor da Aesa, a limitação de atender 300 usuários diariamente deve terminar nos próximos dias. “Tivemos de fazer isso para atender também quem vem adquirir passes escolares, por causa do início das aulas. Quando essa demanda baixar, vamos ampliar o atendimento para o recadastramento dos idosos”, contou Marcondes. As senhas são distribuídas por volta das 7h30, segundo o diretor.

“Não há motivo para grandes filas e chegar de madrugada. Tem até 17 de setembro para se fazer a regularização. Os usuários precisam se conscientizar que, até essa data, podem utilizar o sistema tranqüilamente. Os motoristas e cobradores foram orientados a obedecerem isso”, enfatizou o diretor da Aesa.

O recadastramento começou dia 18 de julho e, inicialmente, iria até 1º de agosto. Cerca de 20 mil usuários precisam se regularizar. Por causa da grande procura, o prazo foi estendido até 17 de setembro.

Desde que começou a ser implantado, em fevereiro, o smart card está disponível a usuários de passe escolar, vale-transporte e passageiros comuns. Com o smart card, a leitura é feita por aproximação, sem a necessidade de introdução do cartão na leitora. Outra vantagem apontada em relação ao cartão antigo é que, em caso de perda, o usuário pode recuperar os créditos em passagens nele depositados.

Idosos, aposentados e pensionistas não têm limite de crédito nos cartões. Idosos acima de 65 anos não precisam fazer o recadastramento. Bastam apresentar a carteira de identidade para utilizar gratuitamente os ônibus.