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Costureiras
aposentadas
voltam à ativa

Em 2010, só 20% seguiam trabalhando depois
de conseguir benefício do INSS; agora já são 40%

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
04/08/2013 | 07:08
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Divulgação


O número de costureiras que voltam ao mercado de trabalho após se aposentar tem aumentado gradativamente na região. Para se ter ideia, em 2010 só 20% das profissionais que passavam a receber o benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no Grande ABC voltavam à ativa. Hoje, esse índice passou para 40%. Uma das principais causas é a perda salarial.

Na região, uma costureira tem remuneração mensal de R$ 1.200, em média. Ao se aposentar passa a ganhar R$ 720 – que corresponde a queda no poder de consumo de cerca de 40%. Outro motivo é a falta de profissionais no setor. “Não há mão de obra qualificada. Ninguém quer estudar para ser costureira. Os jovens pensam que essa profissão é para gente ‘velha’. Isso acaba aumentando, também, a rotatividade no setor”, enumera a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Confecções e Similares do ABCDMRP, Aparecida Leite Ferreira.

Ela completa que 96% da categoria é formada por mulheres. “Desse montante, 45% são chefes de família, ou porque são viúvas, mães solteiras. Por terem que arcar com o orçamento familiar sozinhas, acabam voltando ao mercado e complementando suas rendas.” Por ano, o sindicato homologa cerca de 60 aposentadorias e a idade média daquelas que dão entrada no benefício é de 55 anos.

Hoje, as sete cidades reúnem 7.000 costureiras formais e registradas. Outras 3.000 profissionais são informais, trabalham em casa, ganham por peça produzida e não têm sem registro.

A base do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco reúne 80 mil trabalhadores no setor, com piso salarial que varia entre R$ 900e R$ 1.200. De acordo com a entidade, a principal luta é pelo reajuste das aposentadorias para valores que atendam às necessidades básicas do trabalhador.

CASE

Após quatro anos de aposentadoria, a costureira Sara Dias, 50 anos, viu que precisava voltar a trabalhar. Ela, que mora com a mãe, não estava conseguindo honrar todas as despesas de casa. “Meu benefício hoje é um pouco superior ao valor do salário-mínimo (de R$ 678), recebo cerca de R$ 830. Antes o valor era 25% superior. Tentei ficar em casa por um período, mas não dá. Apesar de não pagarmos plano de saúde e dependermos do SUS (Sistema Único de Saúde), eu e minha mãe precisamos de medicamento, gastamos muito com mercado, além das contas básicas, como água, luz e telefone”, exemplifica.

Hoje, mesmo com fibromialgia, devido o trabalho de anos, Sara foi contratada por uma empresa em Santo André e pretende ficar até quando aguentar. “Vou até o limite da minha dor, poupando sempre o máximo que der, de olho no futuro.”


INVALIDEZ

Ficar sentada costurando por oito ou mais horas todos os dias exige muito do físico de quem depende do ofício para viver. Não é à toa que 15% da categoria do Grande ABC, ao longo do tempo de contribuição (30 anos para mulheres e 35 anos para homens), precisa se afastar do trabalho por inúmeras vezes. “Os problemas são quase sempre os mesmos, tendinite, e outras doenças por LER e Dort (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), causados por esforços repetitivos. Além disso, muitas pessoas desenvolvem quadros depressivos”, analisa a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Confecções e Similares do ABCDMRP, Aparecida Leite Ferreira.

Segundo a dirigente sindical, o tempo que ficam afastados, em média, é de 90 a 180 dias. “Entenda que esses problemas são reincidentes. É preciso tratar sempre.”

Desses 15% que ficam afastados, cerca de 8% se aposentam por invalidez. “No entanto, é muito difícil, bastante burocrático para conseguir a aposentadoria especial. “São necessários laudos médicos e perícias com profissionais da Previdência Social periodicamente.”

BENEFÍCIOS

A carteira assinada oferece segurança a todo e qualquer profissional. Mas, é fundamental trabalhos que propiciem algum tipo de doença, como o caso das costureiras.

Além da estabilidade em períodos de afastamento, a categoria conta com cesta-básica, auxílio-creche (no valor de 30% do salário) e as maiores empresas também oferecem plano de saúde. “Hoje, as pessoas optam por trabalhar nem mesmo pela remuneração, mas pelo convênio médico, que anda muito caro se for pago particular, individual”, enfatiza Aparecida.  




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