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Árvores-patrimônios pedem cuidados
Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
04/05/2013 | 07:00
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Tiago Silva/DGABC


Para quem pensa em patrimônio, logo vem à mente a imagem de um prédio, monumento ou escultura. Poucos imaginam tombar algo vivo, como uma árvore. No Grande ABC, porém, a história que passa pela natureza também é levada em conta. São Bernardo possui duas árvores tombadas pelo conselho municipal, e Santo André e Mauá tem uma cada.

Em São Bernardo, quem passa pela marginal esquerda da Via Anchieta, na altura do km 24, avista uma figueira que, para os que são leigos, é apenas mais uma árvore da paisagem. Apesar de ser aberta à visitação, para chegar até ela é preciso pular o guard-rail, pois não há acesso nem placa de identificação.

Ao redor da planta, estrutura de cimento cobre as raízes e serve como espaço para depósito de oferendas. Poucos conhecem a importância histórica da árvore centenária que servia de ponto de parada para os trabalhadores das minas de carvão da Vila Rio Grande (atual Riacho Grande). "Moro no Jardim Silvina há 13 anos e passo aqui diariamente, mas não sabia que essa árvore era importante. Podiam pôr pelo menos uma placa, pois quem mora na cidade precisa conhecer a história", opinou o porteiro João Laurentino, 34 anos.

A espécie foi tombada pelo Compahc-SBC (Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de São Bernardo) em 1999, por sua representação histórica e também por se tratar de um exemplar das matas nativas da região.

Mas ela apresenta sinais da idade. A Prefeitura informou que o Compahc-SBC solicitou avaliação do estado da Árvore dos Carvoeiros aos técnicos da Secretaria de Gestão Ambiental. O relatório informa que ela apresenta em seus troncos e galhos população de lianas e epífitas, que não são necessariamente parasitas, mas podem prejudicar a planta. Além disso, o tronco tem cavidades, algumas preenchidas com argamassa de argila e outras abertas, mas, apesar dos indícios, não foram encontrados cupins ou organismos patogênicos. Esse relatório será debatido no dia 8 em reunião do conselho para que sejam tomadas providências para conservação da árvore.

REMÉDIO

O outro vegetal tombado em São Bernardo é o jatobá da Avenida Senador Vergueiro, que por anos sofreu com a ação de pessoas que, interessadas nos princípios curativos da planta, tiravam lascas de seu tronco para fazer remédios.

Em 2007, a Prefeitura cercou a árvore a pedido dos moradores, interessados na preservação do bem. Um deles é a jornaleira Marilei Aparecida Tamani, 57 anos, que instalou sua banca há quase 20 anos sob a sombra do jatobá, tombado desde 2006 pelo Compahc-SBC. Marilei conta que, na época em que a árvore dá frutos, ela enche sacolas e distribui para a população. "Vem gente de tudo quanto é canto para pegar", garantiu ela, que destaca que os remédios caseiros feitos com a planta são bons para combater sinusite, além de servir de alimento.

O jatobá, espécie de flora nativa muito explorada na região durante a instalação do núcleo colonial, desapareceu da área urbana do município, sendo o da Vergueiro um dos únicos existentes na cidade.

TRAGÉDIA

A falta de cuidado com as árvores patrimônios causou tragédia em Santo André em abril de 2011, quando a moradora Leda da Silva Maubrigades, 68 anos, passava embaixo da figueira centenária do Parque Celso Daniel e foi atingida por um galho que desabou da árvore. Ela morreu na hora.

Dias depois, a planta, tombada em 1992, foi diagnosticada com fungos e sofreu poda drástica. Hoje está cercada e seus galhos não ultrapassam o perímetro, mas pouco restou da suntuosidade da antiga árvore.

SÍMBOLO

Em Mauá, a árvore símbolo da cidade é uma paineira, plantada nas terras da antiga chácara de Luis Merloni, vendida em 1934 para André Magini. A casa sede, alugada pelo governo estadual, recebeu a primeira escola pública municipal, inaugurada em 13 de agosto de 1935, chamada Grupo Escolar de Mauá. Demolido em 1978, só restou a paineira como referência histórica da época. A árvore fica na Avenida Barão de Mauá com a Rua prefeito Ennio Brancalion.

Tombamento de espécies é previsto em lei

O tombamento de árvores é um instrumento legal de preservação das espécies vegetais, previsto pelo artigo 7 da Lei Federal 4.771/65 do Código Florestal. Conforme a legislação, "qualquer árvore poderá ser declarada imune de corte, mediante ato do poder público, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes."

Conforme a Prefeitura de São Bernardo, as árvores tombadas passam pelo mesmo processo que os demais patrimônios. São bens preservados pelo seu significado em um momento histórico, pela identificação das pessoas em relação a eles e pela referência na memória do povo.

Em todo o País existem árvores tombadas. Curitiba tem oito exemplares arbóreos tombados pelo Patrimônio Histórico do Paraná: um anjico-branco, uma ceboleira, uma paineira e cinco tipuanas, espalhadas por ruas, parques e áreas particulares.

Na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, há amendoeiras, jaqueiras e tamarineiras tombadas, além de um enorme baobá conhecido pela população como Maria Gorda.




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