D+ Titulo Mexa-se
Garotas radicais

Jovens e loucas por adrenalina, atletas contam como curtem a vida

Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
06/10/2013 | 07:00
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Divulgação


Elas são lindas, delicadas e, ao mesmo tempo, fortes e muito corajosas. Fazem parte de um meio, geralmente, dominado pelos garotos. E não estão nem aí para preconceitos. Elas só querem saber de se superar no esporte quem escolheram e, claro, se divertir! O D+ conversou com três atletas que estão se destacando. Confira:

BMX
Aos 5 anos, Bianca Quinalha (hoje com 19) já andava de bicicleta. Mas não como qualquer criança. A garota de Sorocaba já se aventurava em morros e começou a competir no bicicross ainda com essa idade. “Meu pai praticava, mas não queria que eu fizesse. Mas não teve jeito de fugir”, conta Bianca, atual campeã brasileira na modalidade. A atleta também acaba de conquistar um feito inédito na Copa do Mundo, realizada na Califórnia, Estados Unidos: agarrou a 12ª colocação, sendo a melhor brasileira e registrando seu melhor resultado nessa competição.

“O BMX é um esporte totalmente de contato, imprevisível. Não basta ser bom, tem que ser perfeito, porque um errinho você pode cair. Além disso, é ingrato: nem sempre o melhor e mais preparado ganha. O segredo está concentração”, explica. Para Bianca, a mulher sofre preconceito até hoje, mas percebe que muitas garotas estão se interessante pelo bicicross. “Não é porque faça um esporte radical, que não vou me cuidar. Adoro moda. É praticamente impossível me ver ser rímel, base, corretivo e minhas luvas rosas.”

SKATE
Um dos objetivos de vida de Letícia Bufoni, 20, é ajudar a divulgar que o skate é modalidade que pode e deve ser praticada por mulheres. “Essa visão de que é só para garotos atrapalha formação de novos talentos. Me cuido bastante, gosto de roupas femininas, maquiagem e quero mostrar que isso também é possível no skate”, conta a atleta, atual campeã dos X-Games de Foz do Iguaçu e Los Angeles. “Também gostaria que nosso país disponibilizasse mais espaços e rampas para treinamento.”

Letícia, que mora na Califória, Estados Unidos, curte muito a manobra rockslide (feita em um corrimão de uma escadaria). Ela, inclusive, já tirou fotos para uma campanha publicitária fazendo o movimento. “Estava usando vestido e salto alto”, diz Letícia, que é fã dos os skatistas Andrew Reynolds e Bob Burnquist, além de Elissa Steamer.

 

SURFE E STAND UP PADDLE
Quando era criança, Karol Knopf, 24, vivia mergulhando e andando de caiaque em Angra dos Reis, onde cresceu. Os esportes na água se tornaram um vício. “Surfo desde os 15 e há cinco anos conheci o stand up paddle. São as duas maiores paixões da minha vida. Servem como terapia para a mente e corpo.”

Karol nunca se preocupou em ser atleta profissional, mas sempre quis utilizar a prática de diferentes modalidades como forma de divulgar o esporte em geral. Atualmente, ela participa de campeonatos de stand up nas categorias: Race e Wave. “Sou privilegiada por poder utilizar o esporte para sobreviver, poucas pessoas têm essa chance.”

Para ela, as mulheres estão cada vez mais se jogando nos esportes radicais, mostrando que não ficam atrás de homem nenhum. Karol aproveita para dar dicas para quem está começando. “Foque na paixão pelo esporte. Para ser bom é preciso treinar muito.”

 

Entrevistas completas:

Skate – Letícia
Como você começou a gostar de skate? E do futebol?
Ganhei o primeiro skate quando era criança, por volta dos 10 anos. No meu bairro tinha muito menino e eu já me arriscava nas manobras radicais. Quanto ao futebol, eu sempre gostei. Sou corinthiana fanática e jogava melhor do que os garotos, tanto que cheguei a receber proposta do clube Juventus, mas decidi continuar no caminho do skate após ganhar alguns campeonatos no Brasil. Meus amigos e minha família viram que eu poderia ter algum futuro com isso, e me apoiaram desde então.

Você sempre morou nos Estados Unidos? Ainda mora?
Fui morar nos Estados Unidos quando ainda era adolescente e moro na Califórnia. Já tinha conquistado alguns torneios no Brasil e resolvi passar um tempinho lá para ver como eram as coisas. No começo eu fui com o meu pai e a intenção era ficar apenas 20 dias. Chegando lá eu vi que podia alcançar algo mais, larguei meus patrocínios no Brasil e fui tentar alguns por lá. Eles me mandaram propostas e fiquei. Meu pai foi embora e eu continuei. Nessa época ele já sabia que essa atitude seria melhor para minha carreira, e que se eu ficasse no Brasil não me daria tão bem por conta da falta de pistas e de torneios de alto nível.

Já sofreu algum tipo de preconceito por ser menina no skate?
Sim, a principal dificuldade no início da carreira foi o preconceito dos vizinhos, que falavam mal da minha rotina de andar com os meninos do bairro. Muita gente já me olhou torto por eu andar de skate, mas tudo mudou depois que o meu pai aceitou e começou a me apoiar. Essa visão geral de que skate é um esporte masculino atrapalha demais a formação de novos talentos. Um dos meus objetivos é tentar mudar isso e ajudar a transformar o skate feminino, divulgando que essa também é uma modalidade que pode e deve ser praticada por mulheres.

Como foi faturar a medalha de ouro no último X Games?
Em 2013 minhas maiores conquistas foram as medalhas de ouro nos X Games de Foz do Iguaçu e Los Angeles. Esse primeiro representou muito na minha carreira, pois sofri uma lesão pouco tempo antes da competição e era pra ter ficado mais tempo parada. Depois de muito esforço, consegui voltar a andar e recebi alta poucos dias antes dos jogos. Não tem nada melhor do que ter levado o ouro no primeiro campeonato após a operação. O melhor de tudo é que foi aqui dentro do Brasil, com todo o apoio da torcida. Na hora eu não senti nenhuma dor graças ao nervosismo, mas depois o meu pé ficou muito inchado. Estou em uma grande fase da minha carreira e meu objetivo é sempre melhorar.

Qual foi o momento mais emocionante da sua vida?
Acredito que tenha sido a conquista da medalha de ouro no X Games de Foz do Iguaçu, pois foi minha primeira medalha de ouro depois de bater na trave muitas vezes nos anos anteriores.

Qual foi a manobra mais perigosa? Já se machucou?
Gosto bastante da manobra rockslide, que é feita em um corrimão de uma escadaria. Já machuquei meu pé e fiquei seis meses sem andar, trinquei bem no meio do pé e fiquei muito mal. Tive que ir pra escola de muleta, ficava doida em casa sem parar e andar de skate. E também teve essa lesão antes dos X Games em Foz do Iguaçu, que quase me tirou da competição.

Fale sobre a manobra rockslide.
Essa manobra tem uma história legal, pois participei de uma campanha publicitária descendo de skate em um corrimão usando vestido e salto alto. Na verdade aquela foto foi uma edição, pois é impossível fazer manobras de salto, mas acredito que contribuí bastante para mostrar que uma skatista pode se vestir com características mais femininas.

O que você almeja alcançar no skate? Quais seus planos?
Gosto de me divertir andando e levar isso com profissionalismo. Minha meta é sempre andar em alto nível e competir em busca de mais medalhas e títulos nas principais competições. Também quero contribuir para dar mais visibilidade ao skate feminino no Brasil. Eu quero mostrar que as mulheres podem andar de skate e ter uma vida normal, sem esse tipo de preconceito contra o esporte. Eu me cuido bastante, gosto de usar roupas femininas, gosto de maquiagem e quero mostrar que isso é possível no skate. Também gostaria que nosso país disponibilizasse mais espaços e rampas para treinamento, pois isso faz muita falta para descobrir novos talentos.

Bianca - BMX
Quando começou a praticar o BMX?
Foi com 5 anos. Meu pai e tio competiam, mas quando minha mãe engravidou, meu pai parou. A gente morava perto da pista e meu pai não aconselhava que eu fosse lá. Porém, um dia, minha mãe me levou e comecei a competir ainda com 5 anos. Em 2001, fui campeã sul-americana e em 2002, ganhei o mundial.

A Bianca atleta é diferente da Bianca estudante?
São psicológicos, duas vidas. A do BMX é mais complicada. A estudante ainda está confusa. Estou cursando Administração e Marketing e ainda não sei se vou continuar na área esportiva.

Como você define o BMX?
É um esporte totalmente radical. De contato, imprevisível. Não basta ser bom, tem de ser perfeito. Um errinho você pode cair. Também é um esporte ingrato, em que nem sempre o melhor e mais preparado vence. Usa muito da mente e da concentração. Em uma fração de segundos tem de resolver.

Você acha que as garotas dos esportes radicais sofrem preconceito?
Sim, sempre ligam o radical com o masculino. Mas o bicicross está chegando em um ponto em que as meninas já estão dominando e mostram que não são do sexo frágil. E o BMX não é fácil. Já tive muitas lesões: rompi o ligamento do joelho, quebrei a mão, machuquei e ombro. Faz parte da rotina do atleta.

O que seus amigos acham da sua vida?
Eles acham demais, mas minhas amigas nunca quiseram experimentar.

Você curte se cuidar?
Eu amo moda. É impossível me ver em uma competição sem estar maquiada, com rímel, base, corretivo. Uso também camiseta, calça de corrida e luvas cor-de-rosa.

Qual seu maior sonho no esporte?
É competir nos jogos Panamericanos no Canadá e na Olimpíada do Brasil. Deve ser uma emoção enorme ser campeã dentro do meu País. E para as meninas que querem seguir no esporte a dica é? percam o medo.

 

Karol Knopf – Surfe e stand up paddle

Dedde quando os esportes fazem parte da sua vida?
Desde criança, quando vivia dentro do mar andando de caiaque e mergulhando em Angra dos Reis, cidade da minha infância. Aos 15 anos comecei a surfar e o esporte tornou-se um vicio saudável. Há cinco anos eu comecei a pratica do stand up paddle e hoje são as duas maiores paixões da minha vida! Esse contato com o mar sempre foi uma grande terapia de mente e corpo para mim.

Como foi sua adolescência?
Foi toda no surf. Eu estudava e logo depois só queria ir à praia pra pegar onda e ficava até o anoitecer. Meu objetivo nunca foi ser uma atleta profissional, e sim utilizar a prática de diferentes modalidades como forma para divulgar o esporte em geral.

Como migrou do surf para o stand up padlle?
Aqui no Rio o stand up é um esporte relativamente novo. Há cinco anos eu vi na água uma pessoas com essa prancha e tive interesse na hora. Logo depois comecei a amar o esporte e só queria evoluir, mas nunca deixando o surfe de prancha de lado.

Você competiu profissionalmente em algum esporte?
Sim, atualmente participo campeonatos de stand up, em duas categorias: stand up Race e de stand up wave. Posso me considerar uma surfista de alma. Sou privilegiada por poder utilizar o esporte como meio de sobrevivência. Hoje em dia poucas pessoas conseguem ter essa oportunidade.

Qual o momento mais desafiador você já viveu?
Com certeza foi saltar de paraquedas, quando comecei a apresentar programas de esportes radicais no Multishow e Canal OFF. Como sou uma pessoa mais acostumada com a água, esse desafio me deu a maior carga de adrenalina que já senti. Foi apresentando programas de televisão que eu estreitei a relação com outros esportes como o ciclismo, paraquedismo, snowboard e mergulho. Todos os esportes podem nos proporcionar sensações incríveis. No paraquedismo, por exemplo, eu senti realmente o que é adrenalina e emoção.

Você já enfrentou algum preconceito por ser uma 'garota radical'?
Felizmente não. Acredito que essa fase de que só os homens podem e são capazes de serem radicais acabou faz tempo. Hoje é tudo de igual pra igual e o respeito existe entre ambos os sexos. Sempre pensei dessa maneira e foi graças ao empenho que consegui me dar bem no esporte.

Acha que as meninas estão cada vez mais independentes também na escolha e na prática dos esportes?
Totalmente independentes! E cada vez mais as mulheres se jogam neste mundo de esportes radicais, mostrando que não ficam pra trás de homem nenhum. Hoje as mulheres se incentivam muito, quando uma começa a praticar um esporte a outra se interessa e vai na onda. Mas infelizmente ainda temos um número muito pequeno de mulheres se arriscando nos esportes de ação.

Que recado dá para as adolescentes que te admiram e pretendem ser uma 'garota radical'?
Não desistam da escolha de seu esporte, independente da dificuldade que for para fazê-lo. Eu peguei muito ônibus com a prancha de baixo do braço, novinha e sozinha. Acordava de manhã bem cedo, algumas vezes contra a vontade de minha família, que não entendia o amor que eu tinha pra fazer aquilo. Hoje eles entendem e tem orgulho, pois uso o esporte no meu trabalho. Então o recado é focar na sua paixão pelo esporte e ir atrás para se divertir, pois é a diversão que torna o esporte algo tão prazeroso. Para ser bom é preciso treinar muito. Persista nos seus sonhos, arrisque-se e tente sempre pelo menos uma vez. Fique ao lado da natureza e ajude a preservá-la de alguma forma.




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