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Quarta-Feira, 24 de Abril de 2024

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Memória
Ao som da Discoteca Aldo
Ademir Medici
02/08/2018 | 07:00
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“Eis o Aldo Benetuze. Ele está com 94 anos. Santo André inteira comprou discos na sua loja.”

Cf. Euclydes Rocco Junior, arquiteto andreense hoje residindo em São Paulo.

A Discoteca Aldo marcou época em Santo André. Sobreviveu por 27 anos, sempre no Centro da cidade, a partir de 1958. E ao fim deste período ainda funcionou, com o mesmo nome, mas sob a administração do irmão do fundador, Vitor. Hoje é uma sublime saudade, vencida pela era dos tapes piratas e pela enxurrada de CDs igualmente piratas que levaram à derrocada das casas de discos, como analisa, com propriedade, a jornalista Lizete Benetuze, filha do Sr. Aldo.

Se a Discoteca Aldo chegou ao fim, seu criador está bem, muito bem. E na ativa. Lida ainda com discos, por mero prazer, transformando-os em CDs não piratas. Aos 94 anos, Aldo Benetuze mantém a Discoteca Aldo em sua casa, em Santo André, com os discos originais que mais gosta e com os quais se dedica à pesquisa musical.

“Beatles, rock, essas músicas não entravam na minha cabeça. E continuam não entrando. Mas precisava vender. Vendia Beatles, Roberto Carlos. As fábricas não davam conta de fabricar”, relata Sr. Aldo na entrevista que entra ao ar nesta quinta-feira pelo DGABC TV.

MÚSICA O DIA INTEIRO

É uma bela e esclarecedora entrevista. Cabeça boa, memória privilegiada, Aldo Benetuze recorda momentos e situações. Faz verdadeiro diagnóstico da vida musical de Santo André em décadas passadas.

“Alunos saiam da aula e ficavam parados ouvindo os discos na minha loja, entre eles o Dr. Silvio, hoje advogado e que foi engenheiro na General Motors”, rememora Sr. Aldo.

Maria Claudia Ferreira, em seu blog, focaliza a Discoteca Aldo, e recebeu muitas mensagens que comprovam o que Aldo Benetuze disse no programa do Diário.

“Meus primeiros discos comprei na Discoteca Aldo. Meu saudoso pai também comprava discos lá, tipo Nelson Gonçalves, 78 rotações” (Edélcio Cândido, jornalista, ex-Diário).

“Minha mãe comprou para presentear meu pai os discos que ele conseguia ao longo do tempo do tenor Beniamino Gigli” (Ivete Pellegrino).

“Aldo Benetuze, uma legenda de Santo André. Ser humano fantástico. Grande honra em desfrutar de sua amizade” (Flavius Marcio Armani, o Favito).

HISTÓRIAS GRAVADAS

Quem nos apresentou o Sr. Aldo foi o comerciante José Antonio Furlan, que o acompanhou até o estúdio do DGABC TV, juntamente com a filha do Sr. Aldo, Lizete. E foi só dar corda que Aldo Benetuze contou histórias deliciosas.

n Meu pai tinha um bar com cancha de bocha na Rua das Caneleiras, esquina com a Avenida Dom Pedro II, onde está o Pilão Mineiro. Eu dizia a ele:

– Vou sair com os amigos, pai.

– Não, você fica no balcão que eu vou jogar bocha.

Anos depois passei a trabalhar no Eletro-Rádio São João (de José Zavarone). A loja tinha uma seção de discos. Foi comprando a coleção que montei a discoteca.

n Eu vendia discos em vários idiomas. A Refinaria de Capuava estava sendo montada, com muitos alemães e técnicos de outras nacionalidades. Então eu vendia muitos discos em alemão. E havia os holandeses, americanos...

n Comecei com 15 mil cruzeiros emprestados da minha sogra. O meu problema era só começar. Comprava bem, vendia bem. Em 1958, quando comecei, a Loja Tókio estava chegando à Oliveira Lima.

n A discoteca tocava o dia inteiro. O estoque era variado. E eu vendia de tudo, dos compactos aos LPs, agulhas de vitrolas, violões, depois as fitas e outros materiais ligados à música.

REGISTROS

1 – Aldo Benetuze nasceu na Rua 21 de Abril, no bairro da Mooca, em 29 de junho de 1924, filho do italiano Mário Benedusi (na certidão de nascimento do Sr. Aldo o sobrenome saiu errado). Sr. Mário era de Mântua. A mulher, Dona Gema, mãe do Sr. Aldo, nascida em Minas Gerais.

2 – A família mudou para Santo André a convite de um parente, construtor na cidade. Aldo era menino de tudo. Estudou no Grupo Escolar de Santo André.

3 – Sempre gostou de música, mas teve outros hobbies. Andar de bicicleta, por exemplo. Chegou a ir de bicicleta duas vezes a Campinas. E também a Santos, pelo Caminho do Mar. Até que a Polícia Rodoviária o prendeu por pedalar pela estrada nova, a Via Anchieta, nos primeiros tempos da rodovia.

4 – Outra atividade, mais recente, foram os acampamentos. Acampou por este Brasil afora. Chegou a acampar no Uruguai.

5 – Hoje, além de se dedicar à pesquisa e à coleção musical, Aldo Benetuze preserva oficina mecânica e de marcenaria, onde passa bons momentos ouvindo música e trabalhando. Cada ferramenta é cuidadosamente colocada nas paredes da sua garagem, cada qual com seu desenho pintado.

DOIS NOMES

1 – Waldemar Macedo, o Dadá, do Foto Íris. Fotógrafo famoso da velha Santo André, que já teve fotos suas publicadas nesta página Memória. O Foto Íris chegou a ter seção de discos, que não prosperou.

2 – Loja Tapuias, perto das antigas porteiras (cancelas) da estação. Uma discoteca que também fez época em Santo André.

MENSAGEM

“Agradeço aos meus antigos clientes. Eles tiveram a excelente ideia de escolher a minha discoteca. Meus clientes tinham bom gosto.”

NO AR

Acompanhem a íntegra da entrevista de Aldo Benetuze, armazenada no DGABC TV. Basta acessar www.dgabc.com.br. As entrevistas anteriores permanecem no site, outra contribuição do Diário à construção da memória.




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