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Cotidiano
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Evangelho fraudado
Rodolfo de Souza
23/01/2020 | 00:01
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 Noutro dia as redes sociais exibiram a performance de um pastor evangélico que, cheio de júbilo e temor a Deus, partiu para a agressão quando gente contrária ao seu pensamento manifestou a sua revolta com a visita na cidade, de pessoa considerada non grata.

O sujeito, de porte avantajado, fez uso dos punhos para defender a visitante, não por apreciar suas ideias ultraconservadoras, mas para impor à força seus ideais que ele nem sabe ao certo quais são. Mesmo porque, as atitudes do pastor agressor seguem na contramão de qualquer conceito de amor, respeito e família, pregada por aquela. Tudo indica que o indivíduo ali estava só para despejar todo o seu ódio nas pessoas que não concordam com os ideais autoritários que se escondem debaixo da pele de cordeiro da representante do governo.

Entretanto, o que deixa boquiaberto este cronista e o povo que ainda carrega um fiapo de bom-senso não é a proposta da ilustre visitante em seu discurso vazio, mas os olhos injetados de ódio do ungido do Senhor, aquele que segue, ou que, pelo menos, deveria seguir o evangelho, que ensina como lidar com as pessoas que não dividem com ele o mesmo gosto pelas coisas da vida. Onde foram parar, afinal, a paz e o amor que o livro santo insiste que sejam aplicados? Ou ele estaria sendo usado só para ensinar o fiel a seguir, submisso, os anseios escusos de quem toma nas mãos o livro e prega o seu conteúdo com energia, voz forte, gargalhadas satânicas e intimidadoras? Tempos sombrios estes.

E, para ilustrar o que vinha pensando a respeito de tudo isso, o noticiário matinal fez chegar ao meu conhecimento a história da também pastora e cantora evangélica que espancou uma senhora que passara dos 70 anos e que, portanto, não dispunha do mesmo vigor físico da jovem agressora. Tudo isso bem diante da câmera precisa e de alta definição de um celular moderno. Câmeras que ultimamente têm gravado cenas de arrepiar. Como a do pastor agredindo manifestantes, por exemplo.

Naquele caso, contudo, a mulher, carregada de santidade, colocava em prática todo o ensinamento evangélico a que fora submetida desde sempre, para socar a idosa. Segue, ao que tudo indica, à risca o que vem aprendendo ali, sobretudo aquela parte que fala da mansidão e do amor ao próximo.

Mas o mais estarrecedor no vídeo é o olhar assustado de uma criança, com idade para entender, que, sentadinha no sofá, assistia, chocada, à demonstração de força e violência da serva que representa Deus e que canta e fala muito de Jesus e de todo o seu amor pelas pessoas.

Eu, que me perdoe o distinto leitor religioso, conheço pouco do evangelho por não ter o hábito de viajar pelas suas páginas. Todavia, sei o suficiente para afirmar com veemência que ali prega-se o amor acima de tudo. O que acontece, então, nestes tempos conturbados? Nunca se viu tantos pastores ensinando bons costumes na porrada, como se tem visto ultimamente.

Ouvi dizer que um dia Deus se encheu da maldade do homem e encheu de água toda esta Terra, escandalosamente redonda, matando a todos. O que planeja, então, fazer com a gente deste século XXI, que cultiva o ódio em seu nome e sai por aí disseminando a brutalidade com a desculpa de zelar pelos bons costumes? 




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