“A consciência de um faz o coletivo.” É com esse pensamento na bagagem que o casal Eleni Alvejan, 42 anos, e Sérgio Medeiros, 41, partirá para expedição até o Alasca a bordo de uma Land Rover 4x4 no sábado. Os moradores de São Caetano trocaram o conforto de um apartamento em área nobre da cidade e deixaram seus empregos como condutora de transporte escolar e vendedor técnico em indústria de papel, respectivamente, para praticar o desapego e levar adiante o projeto Mundo Cão, que distribui alimento, água e carinho a cachorros abandonados.

Embora reconheçam ser taxados de loucos e se considerem pessoas de ‘miolo mole’, ambos destacam que o intuito do trabalho voluntário e 100% financiado com recursos próprios não é salvar a vida de todos os animais que são largados pelos proprietários nas ruas. “É uma tentativa de mudança de pensamento para que as pessoas tenham consciência e não deixem seus cães ou, melhor, nem os peguem para cuidar se não têm condições”, observa Eleni.

A preparação para a viagem teve início há cerca de um ano e meio, quando o casal decidiu unir o desejo de percorrer a Pan-American Highway (Rodovia Panamericana) – rede de estradas que liga os dois extremos do continente americano, com 25,8 mil quilômetros – ao projeto social iniciado há sete anos com moradores de rua da região. “A gente distribui agasalhos e lanche para pessoas em situação de rua e tivemos a ideia de levar ração para os cachorros que andam com elas”, lembra Medeiros.

Também fez parte dos preparativos colocar a questão burocrática de documentação em dia, como passaportes, vistos e documento do veículo. “A gente teve de tomar 14 vacinas para ficar protegido, mas essa questão da saúde é uma das coisas que mais me preocupa, porque uma doença inesperada pode atrapalhar nossos planos”, diz Eleni.

A primeira parte do projeto foi realizada em janeiro de 2014, quando Eleni e Sérgio aproveitaram o período de férias para percorrer cerca de 15 mil quilômetros pela Patagônia de carro. “Foi uma experiência e a gente observou que tem muito cachorro abandonado por aí, principalmente nas cidades turísticas”, destaca a ex-condutora de transporte escolar. Na volta para casa, não restou dúvida sobre a segunda etapa do sonho.

Uma das questões mais complicadas para o casal foi a necessidade de ‘zerar’ suas vidas em São Caetano. “Tivemos de quitar todas as nossas dívidas, encerrar contas bancárias, vendemos ou doamos todos os móveis e alugamos o apartamento”, ressalta Medeiros. O valor do aluguel, de R$ 2.300, inclusive, será a única fonte de renda fixa durante o período em que permanecerão na estrada. “A gente tem economias para usar caso aperte, mas o desafio é viver com menos”, completa Eleni.

SEGREDO

Juntos há 15 anos, Eleni e Medeiros destacam que o segredo da parceria é um abraçar a loucura do outro. “A gente sabe que vai ter perrengue, mas estamos abertos a enfrentar os problemas com tranquilidade”, lembra Medeiros. O casal combinou não dirigir de madrugada e se hospedar em hotel ou pousada duas vezes por semana. Nos demais dias, campings, estacionamentos de hotéis e de supermercados serão os locais destinados às paradas para o descanso.

Os principais gastos durante a aventura serão com combustível, hospedagem, alimentos e ração, que será comprada durante o percurso. No mais, tudo o que precisam está no bagageiro da Land Rover, pensada e equipada cuidadosamente por Medeiros, o motorista oficial da expedição. O veículo possui mesa, cadeiras, fogão à gasolina, forno elétrico e até barraca de teto e espaço interno para dormir, caso precise. “Passei 13 anos dirigindo oito horas por dia e agora só quero ficar do lado dele trocando a música e comendo”, brinca Eleni.

Apesar da saudade da família, que preparou festa de despedida no próprio sábado, ambos estão ansiosos com a oportunidade de descobrir o mundo. Tudo será devidamente registrado e documentado nas páginas oficiais do casal na internet, como o Facebook e o site www.projetomundocao.com.br.

“Vamos reunir todo o material em livro, documentário e, posteriormente, em exposição e palestras. A gente descobriu que o mundo é grande e que podemos fazer mais coisas do que imaginávamos”, ressalta Medeiros.